Voltando para atualizar o blog com um livro que eu terminei de ler no dia que fiz a última postagem (e que enrolei pra fazer até hoje, que estou terminando a próxima leitura). Esse foi um livro que eu peguei emprestado com a minha priminha, e que como previsto engoli em dois dias. Mas sem enrolações (pq já enrolei mto), vamos lá!
Uma visão geral:
O livro é escrito em forma de cartas. Cartas escritas por um garoto chamado Charlie que vê a sua vida dar a reviravolta pela qual todos passam em sua adolescência. Escrevendo para alguém que ele sabe que entenderá as suas palavras e mantendo em segredo a sua identidade e a de todos os que o cercam, Charlie procura dividir com alguém não somente as suas angústias mas também as suas vitórias, dúvidas e experiências nessa fase de sua vida. Deprimido com a morte de um amigo próximo, Charlie procura se encaixar novamente no mundo e viver a sua vida de acordo com as suas vontades e desejos (mesmo que estes muitas vezes não estejam tão bem definidos). Acompanhando o amadurecimento do garoto, o livro nos mostra um pouco da realidade não somente da adolescência, mas também da vida.
Um comentário:
Estava querendo ler esse livro faz um bom tempo, pois só o título já havia me chamado a atenção. Mas apesar desta vontade de ler, nunca havia corrido atrás nem mesmo para ler a sinopse, por isso quando abri o livro pela primeira vez e me deparei com as cartas de Charlie, fui surpreendida pela forma de escrita. Simplesmente adorei o livro. Além de trazer um personagem muito parecido comigo em alguns aspectos, o livro também traz todo o amadurecimento de Charlie ao decorrer de um ano, mostrando todas as suas falhas e desvios do caminho como também suas conquistas e sua forma peculiar de ver o mundo e a vida. É um livro que nos faz desejar a próxima carta de Charlie como se estivéssemos as recebendo em nossas próprias caixas de correio. Um livro que nos torna próximos não somente do personagem principal, mas também de sua vida e surpreendentemente, das nossas. (Ou pelo menos foi isso que aconteceu comigo.)
Uma citação:
"Não sei se você já se sentiu, querendo dormir por mil anos. Ou se sentiu que não existe. Ou que não tem consciência de que existe." pg. 103
Um surto pessoal:
Meu surto pessoal da vez vai para o livro todo. Gostei muito da forma como tudo foi apresentado. As cartas de um garoto perdido na vida, sem saber como seguir em frente. As palavras que ao mesmo tempo que contam a sua história mostram também um pedido de socorro entre as entrelinhas. E a forma como a própria depressão é apresentada em Charlie de forma tão natural que nos faz entender muitas coisas... Por isso dessa vez o surto pessoal vai para TUDO. E para o fato de que eu AINDA não vi o filme.
Extra:
E bom, por incrível que pareça, já escrevi algo parecido. Na verdade foi algo que surgiu entre eu e uma amiga. Ela escreveu as primeiras cartas, como uma pessoa perdida que pede ajuda à alguém que ela admira. E então eu entrei escrevendo as respostas. E foi aí que tudo começou. Falamos de tudo e falamos de nada. Filosofamos sobre a vida e sobre a existência e tudo o que está relacionado à ela. E por isso decidi postar UMA das cartas que eu escrevi. Gostaria de colocar tudo aqui, porque gosto muito de tudo o que escrevemos. Mas então essa postagem seria mil vezes maior até mesmo que o livro... Escrevemos isso em 2012, e escolhi uma das cartas do início. Porque... Eu não sei. Mas aí está:
São Paulo, 26 de Abril de 2012.
Nina, Nina, Nina. Pequena-grande
Nina.
Seu nome faz com que eu
imagine alguém frágil e sentimental, perdida em um mundo onde os sentimentos já
não valem nada além de dor, e que somos sufocadas por toda essa confusão de
corpos que se sufocam, mas que nem mesmo se importam em se ver. As pessoas
estão cegas, Nina. Elas não conseguem mais ver ninguém, além de si mesmas. E
com isso, não conseguem ver a beleza do mundo também.
Mas mesmo que seu nome me
traga em mente alguém frágil, suas palavras me dizem exatamente o contrário, e
me trazem aquela tão conhecida contradição que eu disse sempre vivenciar. A
contradição que não combina, mas que cai perfeitamente em você. Suas palavras
me trazem força, me mostram uma pessoa com um grande potencial de mudar o mundo
e transformar os sentimentos, escondida por trás de uma imagem frágil e
delicada.
Talvez, quem sabe, uma
garota de cabelos longos e loiros, com a pele clara e o corpo pequeno. Talvez
use óculos, quem sabe? Alguém retraído, aparentemente frágil demais para ser
tocada. E imagino seu dia a dia como vendedora, por trás de um grande balcão
escuro, que coloca toda a sua força e imponência sobre a sua imagem frágil,
enquanto você vende peças à todas as pessoas sem alma que aparecem por lá.
Talvez, em alguns
momentos, você encontre uma ou outra pessoa que lhe dê esperanças de alguma
coisa. E talvez, lá no fundo, por trás de toda essa gente que perdeu sua alma
em busca do sucesso financeiro, existam algumas poucas pessoas boas que ainda
possamos encontrar. E então imagino você estudando-as, observando-as. Tentando
entender o que todas as pessoas que passam por você vivem e pensam. E talvez,
até mesmo o que sonhem.
Se bem que sonhar, hoje
em dia, parece alguma coisa completamente utópica ou medíocre. Algo que somente
as crianças, julgadas injustamente de desinformadas, fazem. Algo que somente
aqueles que ainda não entendem o mundo se permitem fazer.
Mas por trás dessa imagem
frágil, você esconde um segredo. As cartas profundas que escreve em seu
apartamento pequeno, quem sabe no escuro? Em um computador comprado com todo o
seu esforço e dedicação. E então, como uma sombra na noite, você vem até o meu
apartamento e deixa as cartas aqui, para que eu possa retirá-las de manhã e
usufruir de um pouco de filosofia e pensamentos profundos, que as pessoas
parecem não querer encarar.
É assim que eu te
imagino, Nina. Será que eu acertei? Ou será que deixei que a minha imaginação
fosse longe demais e imaginasse coisas que nem mesmo são possíveis? Se errei
feio, por favor, não se ofenda. Eu sou uma escritora, Nina. Tenho uma mente
criativa demais que cria cenas e episódios sem a minha permissão. Por isso, não
pense que eu iria me decepcionar de saber que isso não é uma verdade.
Afinal, sendo uma
escritora, aprendi que quase nada do que eu escrevo pode ser verdade. E sei que
quase tudo que a minha mente cria e esculpe quase sempre não passa de uma
utopia. Um conto. Uma fantasia.
Você diz que enxerga
realidades em mim, Nina. Mas essa não é a verdade. Minhas histórias são mundos
criados, fantasias que só ganhariam vida, se atuadas em uma tela de cinema. Ou
em uma novela, quem sabe? Eu crio mundos, crio fantasias, pessoas e situações.
Mas eles não passam de uma meia verdade. Um mundo criado no desespero de não
conseguir se encaixar no mundo real.
O mundo em que vivemos é
muito frio Nina. É muito distante de tudo aquilo que eu imaginei. Tudo aquilo
que eu criei dentro da minha mente e quis entender como verdadeiro. E foi por
isso que comecei a escrever. Talvez, pelas minhas cartas, você perceba que eu
não passo de uma romântica incorrigível. Uma pessoa que não consegue conter as
palavras e as despeja sobre o papel, tentando dar vida à um mundo da qual nós
não fazemos parte.
Talvez, pelas minhas
cartas, você possa perceber que escrever é uma das minhas paixões. Um dos meus
vícios. Uma das minhas salvações. A junção das palavras e a mágica que elas
podem trazer, juntas. Tudo isso faz com que eu não consiga controlar as
palavras que saem para o papel, e tornam tudo o que eu escrevo gigante. Você
vai se cansar de ler, Nina. Vai cansar de ver a minha letra sobre o papel.
Mas foi você quem
escolheu. E eu escolhi também. E aqui estamos nós. Reais. Duas pessoas reais
vivendo o que parece ser uma fantasia. Não é contraditório, tudo isso?
Às vezes sinto como se eu
estivesse dentro de uma das minhas histórias. Como se eu fosse uma das
personagens que eu sempre costumava criar, vivendo os acontecimentos que cabe a
uma escritora maluca inventar. O que será que a escritora da vida nos reserva,
Nina? Como serão todos os meses que virão, e como tudo irá se desenvolver?
Eu não sei como as coisas
serão, Nina. Mas de uma coisa eu tenho certeza: irei esperar por cada carta
ansiosamente, com aquele gostinho de quero mais que só torna as coisas ainda
mais emocionantes. E mesmo que nossas cartas não sejam completamente
periódicas, mesmo que nossas cartas não tenham muitas regras, eu as escreverei
e as lerei com o deleite de alguém que lê um livro pela primeira vez.
Às vezes ainda penso que
revelo demais à você, Nina. Às vezes ainda tenho aquela pontinha de razão me
dizendo que eu não deveria continuar. Mas eu quero é que ela se dane. Quero que
ela vá para o espaço e me deixe sonhar. Ao menos uma vez, eu quero viver uma
fantasia. E é por isso que aqui estou. Escrevendo mais uma carta gigantesca que
fará com que você perca bastante tempo do seu dia para ler e entender. Entender
as palavras perdidas de alguém que sente demais, fantasia demais e se controla
de menos.
Esse é o nosso mundo,
Nina. É o mundo que estamos construindo, em meio à toda escuridão que
encontramos ali fora. E não é só porque está de noite! É porque as pessoas
estão cegas, e estando cegas, elas não querem que ninguém mais veja também.
Elas fazem de tudo para
cobrir a visão das crianças. Apagar aquela chama de ilusão e fantasia com a
qual todos nós nascemos. Esconder dentro delas os sonhos e a capacidade de
sonhar. Torná-las cegas. Sem sentido. Torná-las mais um deles para que elas
possam dar continuidade a esse ciclo vicioso e sufocante. Onde não podemos
sentir nem sonhar. E devemos correr atrás de sucesso, mesmo que o sucesso do
modo como eles veem seja para poucos.
E então, entre palavras
escritas e digitadas, aprenderemos uma com a outra, e poderemos discutir e
desabafar sobre esse mundo ao mesmo tempo em que criamos uma realidade
fantasiosa que eu antes não sabia ser possível de existir. Esse é o nosso
mundo, Nina. E ele é um segredo de todos aqueles que não podem ver.
Fantasiosamente,
Nuna.
(As Cartas Secretas - Elaine Alves e Alessandra Kamimura)
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